Junho Violeta: mês de atenção à saúde ocular dos Pets

Com o objetivo de conscientizar tutores e profissionais da área da medicina veterinária sobre a importância dos cuidados com a visão na qualidade de vida dos animais de estimação, o Junho Violeta marca o mês de prevenção das doenças oculares em cães e gatos. A campanha busca alertar sobre os principais sinais de alerta para a ocorrência das doenças oculares, além de incentivar a busca por atendimento especializado com orientações sobre a prevenção destes problemas e os avanços na medicina veterinária para garantir a saúde ocular dos pets.
O médico-veterinário, mestre em Cirurgia Veterinária, doutor em Medicina Veterinária e coordenador do Programa de Aprimoramento Profissional em Medicina Veterinária da Uniube, Renato Linhares Sampaio, compartilha informações sobre doenças oculares, métodos de diagnóstico e a importância do tratamento adequado.
O que é o Junho Violeta e qual sua importância na prevenção das doenças oculares em pets?
Renato Linhares: O Junho Violeta é uma campanha de conscientização dedicada à prevenção de doenças oculares em animais de companhia. A visão é essencial para a locomoção, identificação de riscos, interação social e com o ambiente, além de contribuir para o bem-estar dos pets. Algumas doenças oculares se desenvolvem de forma silenciosa e só são percebidas precocemente por profissionais especializados em oftalmologia. Por isso, o mês de junho é um momento oportuno para reforçar o cuidado com os olhos dos nossos amigos de quatro patas e estimular o atendimento preventivo com avaliação oftálmica.
Quais são as doenças oculares mais comuns que afetam cães e gatos?
Renato Linhares: Entre as mais frequentes diagnosticadas em cães e gatos estão:
- Ceratoconjuntivite seca (olho seco): inflamação da superfície ocular, associada à deficiência na produção ou composição da lágrima.
- Úlceras de córnea: lesões na porção transparente do olho, com risco de perda visual e necessidade de intervenção imediata.
- Glaucoma: aumento da pressão intraocular, podendo causar cegueira se não tratado.
- Catarata: opacificação do cristalino, comum em animais idosos ou diabéticos.
- Uveíte: inflamação ocular frequente em cães com doenças transmitidas por carrapatos e em gatos com viroses.
Existem raças mais propensas a desenvolver problemas oculares?
Renato Linhares: Sim. Algumas raças de cães e gatos apresentam características anatômicas que favorecem o surgimento de doenças oculares. Entre os cães, os chamados braquicefálicos — como Shih Tzu, Lhasa Apso, Maltês, Pequinês, Pug, Buldogue Francês e Buldogue Inglês — são os mais predispostos. Isso porque possuem focinho encurtado, órbitas oculares mais rasas e abertura palpebral ampla, o que exagera a exposição dos olhos ao ambiente. Essa conformação dificulta o fechamento completo das pálpebras, prejudica a distribuição das lágrimas e aumenta o risco de ressecamento ocular (ceratoconjuntivite seca), úlceras de córnea, traumas e até protrusão da glândula da terceira pálpebra Além disso, a presença de dobras de pele na face e o crescimento anômalo de cílios ou pelos próximos aos olhos podem causar contato constante com a superfície ocular, provocando irritações, inflamações e lesões. Entre os gatos, as raças Persa, Exotic Shorthair e Himalaio compartilham essa predisposição. O formato facial encurtado pode dificultar a drenagem correta da lágrima pelos ductos nasolacrimais, gerando lacrimejamento excessivo e conjuntivites recorrentes. O acompanhamento oftálmico com um médico-veterinário especializado é essencial para diagnosticar precocemente essas alterações e indicar medidas como o uso de lubrificantes oculares, higienização das dobras faciais, remoção de cílios anômalos e outras intervenções específicas. Isso contribui diretamente para a qualidade de vida, o conforto e a saúde ocular desses animais.
Como é feito o diagnóstico das doenças oculares e quais sintomas os tutores devem observar?
Renato Linhares: O diagnóstico evoluiu com equipamentos modernos como:
- Biomicroscopia com lâmpada de fenda (avaliação de córnea, íris e cristalino);
- Tonometria (medição da pressão ocular);
- Teste de Schirmer (produção lacrimal);
- Oftalmoscopia (exame da retina).
Exames complementares incluem citologia, cultura microbiológica, exames de sangue e imagem. Muitas doenças oculares estão ligadas a distúrbios sistêmicos, exigindo avaliação conjunta com especialistas.
Os tutores devem observar: olho vermelho, secreção, opacificação da córnea, lacrimejamento excessivo, sensibilidade à luz, coceira com patas, piscadas frequentes ou desorientação. O exame oftalmológico é essencial para diagnóstico precoce e preservação da visão.
Quais são as principais medidas preventivas?
Renato Linhares: A principal medida é a atenção diária do tutor a qualquer alteração ocular. Vermelhidão, secreção, olhos semicerrados ou lacrimejamento devem ser sinais de alerta. Mudanças de comportamento, como dificuldade de localizar brinquedos ou comida, também merecem atenção.
Evite automedicação: colírios com corticoides, por exemplo, podem agravar quadros como úlceras de córnea. O uso do colar elizabetano ajuda a proteger os olhos até a consulta. A prevenção inclui visitas regulares ao veterinário, especialmente para raças predispostas. Com cuidado e acompanhamento, é possível garantir mais qualidade de vida ao pet.
A alimentação e os cuidados gerais influenciam na saúde ocular?
Renato Linhares: Sim. Uma nutrição equilibrada e cuidados preventivos são fundamentais para preservar a saúde ocular de cães e gatos. O controle do peso, por exemplo, ajuda a evitar doenças como o diabetes mellitus, que pode desencadear a catarata diabética — uma condição que compromete a visão e exige tratamento específico, com acompanhamento multidisciplinar e controle rigoroso da glicemia. Além disso, a escolha da alimentação deve ser feita com orientação veterinária. Rações comerciais formuladas para diferentes raças, portes e fases da vida garantem os nutrientes adequados, enquanto a alimentação natural só deve ser oferecida se for elaborada por um veterinário nutricionista, para evitar deficiências que podem afetar, inclusive, os olhos. Um cuidado importante é nunca oferecer ração de cães para gatos, pois a diferença nutricional entre elas pode gerar carências sérias.
Manter o pet ativo, com a vacinação e vermifugação em dia, também contribui para a saúde dos olhos e do organismo como um todo. Check-ups regulares ajudam a identificar precocemente alterações oculares e garantem mais qualidade de vida aos animais.
Há mitos sobre a visão dos pets que precisam ser esclarecidos?
Renato Linhares: Sim. Um dos mitos é que cães e gatos enxergam apenas em preto e branco. Eles veem cores, mas de forma diferente dos humanos. Além disso, têm excelente visão noturna, graças à adaptação evolutiva. Outra crença equivocada é que eles "enxergam mal". A verdade é que usam a visão em conjunto com o olfato e a audição, o que lhes dá uma percepção eficaz do ambiente. Portanto, é importante desmistificar a ideia de que cães e gatos enxergam mal. Eles veem o mundo de forma diferente, mas de um jeito perfeitamente adequado às necessidades deles.
Qual é o acompanhamento ideal para garantir a saúde ocular dos pets?
Renato Linhares: A recomendação é que o pet faça a primeira avaliação oftálmica no primeiro ano de vida. A partir dessa consulta, o especialista define a frequência dos retornos: anual, semestral ou até mais frequente, dependendo da predisposição ou presença de doenças. A rapidez no diagnóstico é essencial para o sucesso do tratamento. O acompanhamento contínuo, aliado à atenção aos sinais clínicos, é a chave para garantir o bem-estar visual dos animais. Em alguns casos, as consultas podem ser anuais; em outros, semestrais ou até mais frequentes, especialmente quando há doenças já diagnosticadas ou maior propensão a problemas oculares. É sempre importante lembrar que os olhos são estruturas sensíveis, e a rapidez no diagnóstico é fundamental para o sucesso do tratamento. Com um acompanhamento regular e atenção aos sinais, é possível garantir mais qualidade de vida e bem-estar visual para os nossos amigos de quatro patas.
Quais são os avanços recentes no diagnóstico e tratamento das doenças oculares em pets?
Renato Linhares: Os avanços na oftalmologia veterinária têm melhorado significativamente a precisão diagnóstica e os tratamentos. Hoje, contamos com equipamentos portáteis específicos para pets, o que permite exames mais rápidos e confortáveis. Também houve evolução na formulação de medicamentos veterinários, que facilitam a administração e aumentam a adesão ao tratamento. Esses avanços têm elevado a qualidade dos atendimentos e contribuído para a preservação da visão e do conforto dos animais.
A saúde ocular dos nossos pets merece atenção constante e cuidadosa. O Junho Violeta é uma oportunidade valiosa para reforçar que o diagnóstico precoce, o acompanhamento especializado e os cuidados diários são fundamentais para o bem-estar dos animais. Observar sinais, realizar check-ups e consultar um médico-veterinário oftalmologista são atitudes que demonstram amor e garantem conforto e qualidade de vida aos nossos companheiros.